A atriz diz que se preocupa com o tipo de valor que passa ao telespectador
Viver mocinhas já virou lugar comum na carreira de Fernanda Vasconcellos. Desde que estreou na tevê, em 2005, em Malhação, a atriz coleciona papéis de heroínas nos folhetins. Inclusive póstumas, quando encarnou a romântica Nanda de Páginas da Vida, que morreu no parto e permaneceu na trama como fantasma. Mas agora, como a determinada Malu de Sangue Bom, assume que tem uma motivação diferente para se dedicar ao posto de protagonista. Na pele de uma paulistana que mantém um abrigo para crianças carentes, a atriz sonha poder contribuir para mudar o pensamento dos jovens telespectadores a partir da trama central da novela das sete da Globo.
"Quanto mais jovens alienados e consumistas se formarem, mais adultos doentes teremos no futuro. Esse 'querer ser' através do consumo é quase comparável à dependência química. Parece um vício", critica.
Na história de Maria Adelaide Amaral e
Vincent Villari, Malu é o contraponto da irmã Amora, papel de Sophie
Charlotte. Enquanto a primeira olha mais para o próximo do que para si, a
"it girl", que cresceu nas ruas e foi adotada aos 9 anos, só pensa em
ser famosa e aumentar sua coleção de sapatos. E como trabalha na
televisão, Amora pode ser considerada uma crítica explícita à futilidade
e ao deslumbre que imperam no meio artístico. Uma discussão que enche
Fernanda de orgulho.
"Vibro por poder ser porta-voz de um debate tão importante. Conheço bem
esse tipo de gente que faz de tudo para aparecer. Vivo no meio de
muitos deles e hoje isso é tão forte que o momento é mais que propício
para abrirmos os olhos", frisa.
Para a personagem, Fernanda passou a ler livros e textos sobre Pedagogia e Assistência Social. Além disso, fez pesquisas na internet, anotou alguns telefones e ligou para Ongs na tentativa de conversar com seus fundadores. Chegou à Associação de Apoio à Criança com Câncer (AACC), fundada por um casal que perdeu um filho com leucemia, e à Associação Educacional e Assistencial Casa do Zezinho, espaço de oportunidades de desenvolvimento para crianças e jovens de baixa renda, ambas em São Paulo.
"Foram três meses de convivência intensa. É impressionante o quão transformadora essa experiência pode ser. Você passa um dia com crianças achando que vai ajudá-las, mas são elas que salvam você", emociona-se, com os olhos brilhando.
Durante esse tempo, Fernanda contou histórias e fez teatrinho para as crianças. Desenvolveu ainda alguns exercícios de pintura junto com elas e tentou ser assídua nas duas instituições. Mas não apenas para estudar a personagem. A atriz garante ter encontrado um jeito de "evoluir como ser humano". E, jura, consegue até fazer uma reavaliação de sua carreira a partir dos ensinamentos trazidos por essa pesquisa para interpretar Malu.
"Hoje, me preocupo mais com quem me cerca e que valores estou transmitindo para quem me assiste", conta.
Além disso, Fernanda recorreu à ajuda da psicanalista Katia Achcar. Um recurso que utiliza desde quando encarnou a tenista Ana em A Vida da Gente. Com ela, tenta compreender os sentimentos e as emoções das personagens. O resultado desse estudo se transforma em atitude e comportamento nas cenas pelas mãos da preparadora Helena Varvaki.
"São as professoras que escolhi para a minha vida. Esse é um trabalho que eu faço por conta própria, não tem relação com a equipe da novela", explica.
Início solitário
Fernanda Vasconcellos assume que a fase mais complicada de sua profissão foi o início, ao mudar sua vida radicalmente aos 19 anos para investir fundo na carreira de atriz. Foi nesse período que ela foi aprovada nos testes e escalada para viver a protagonista Betina da 12ª temporada de Malhação, em 2005.
"Vim sozinha para o Rio de Janeiro e era bem nova ainda. Foi o momento em que me senti mais frágil, vulnerável", recorda.
Mas a experiência foi tão proveitosa que lhe rendeu o convite para viver a doce Nanda de Páginas da Vida, jovem que engravidava de gêmeos do namorado durante um intercâmbio em Amsterdã e, no capítulo 23, morria no parto depois de ser atropelada.
De lá para cá, a atriz coleciona papéis de mocinha. Foi assim em Desejo Proibido, Tempos Modernos e A Vida da Gente. Mas, questionada se sente falta de encarnar tipos menos politicamente corretos, Fernanda garante que não se incomoda por não ser vista ainda como uma possível vilã por autores, diretores e produtores de elenco.
"Gosto de papéis que estimulem meus recursos dramáticos. Não importa a índole, quero é exercitar tudo que estudei e estudo até hoje", valoriza.
Instantâneas
# Antes de trabalhar com Maria Adelaide Amaral em Sangue Bom, Fernanda atuou em uma das peças escritas pela autora, Vidas Divididas, produzida por Antônia Fontenelle.
# Como a novela tem parte de suas cenas ambientadas na Zona Norte de São Paulo, Fernanda gravou sequências no bairro onde cresceu, Vila Guilherme.
# A carreira na tevê começou como figurante do programa Fantasia, no SBT, e, posteriormente, como dançarina do Domingo Legal, na mesma emissora.
# Quando gravava Páginas da Vida, uma campanha promovida por telespectadores pedia que Nanda não morresse. Diante das manifestações do público, Manoel Carlos decidiu manter Fernanda Vasconcellos na novela, fazendo sua personagem aparecer como espírito.
Fonte: O Fuxico
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